Volta e meia me pego pensando como será o futuro com minha filha Luísa. Como será o seu comportamento, seu temperamento. Quais serão suas brincadeiras favoritas, suas histórias prediletas? O que lhe fará feliz? Brincaremos de tantas coisas: casinha, pique-esconde, amarelinha, bola, boneca, cavalinho… Lerei muitas historinhas para ela dormir, ou inventarei uma boa história de aventuras com direito a príncipes e princesas. Imitarei vozes de personagens e quem sabe brincaremos de peças improvisadas.
Essa relação saudável que teremos será sempre pautada no respeito, na sinceridade e no amor, gerando frutos de confiança e cumplicidade. Como para toda criança, os seus responsáveis passam a ser seus exemplos e espelhos. Como é gostoso você sentir no olhar de seus filhos o orgulho de você ser seu pai. Em sua imaginação fértil, somos todos super-heróis que estarão sempre ao seu lado para protegê-los. Somos pessoas possuidoras de um conhecimento imenso de tudo. Somos fortes e jamais erramos.
Na contramão desse pensamento, vem um turbilhão de outros pensamentos e incertezas a respeito desse “grande herói” que posso ser. Muito em breve minha filha será bem maior que eu, o que me impedirá de fazer diversas brincadeiras e atividades que pais costumam fazer com seus filhos. Carregar no colo. Brincar de jogar para o alto e depois agarrá-la. Levá-la na cacunda. Levá-la na garupa da bicicleta. Segurá-la na piscina se esta não for rasa. Levá-la mais pro fundo no mar quando formos à praia. Ajudá-la a pegar coisas no alto.
Que tipo de referência de super-herói serei? Homem-formiga? Professor Xavier? Como representar no imaginário da minha filha pessoas capazes de fazer tudo se desde cedo ela saberá que seu super-herói tem muitas limitações? Será ruim? Não! Toda essa limitação é na verdade uma grande bênção de Deus.
Sim, uma grande bênção! Desde de bem novinha, minha filha saberá que todos nós temos nossas limitações, nossas dificuldades, até mesmo os “super-heróis”. Isso não é motivo de vergonha ou de se sentir inferior a ninguém. Sem grandes esforços, a Luísa irá entender coisas que muitos levam anos para aprender ou nunca aprenderão. Nossos “super-heróis”, ou melhor, nossos pais, ou as pessoas que cuidam da gente, também são frágeis. Também precisam de carinho, erram, possuem diversas limitações e precisam da nossa ajuda.
Minha filha saberá que nem sempre seu pai poderá lhe ajudar em todas as situações, ao contrário, muitas vezes sou eu quem precisarei da sua ajuda. Saberá que em muitas das suas aventuras de criança eu não poderei estar junto amparando contra as possíveis quedas, mas lhe explicarei todos os cuidados que ela deverá ter e, caso ela caia, estarei sempre perto para lhe socorrer.
Saberá que pedir ajuda às pessoas não é sinal de vergonha ou fraqueza, faz parte da natureza humana, afinal somos imagem de um Deus Trino que em si só é uma comunidade de amor e ajuda mútua. Saberá também que suas habilidades e virtudes não a qualificarão para se sentir melhor ou superior a alguém, apenas diferente.
Saberá olhar para as pessoas para além de suas aparências, entendendo que o mais importante é o que elas trazem em seu interior. Provavelmente conseguirá enxergar primeiro com mais facilidade as qualidades de alguém do que suas limitações.
Por fim, saberá ser grata a Deus por poder ter a oportunidade de aprender de forma bem concreta tantas coisas que muitas vezes só conseguimos compreender com muito suor e sofrimento. Obrigado Deus por eu ser desde sempre para minha filha esse super-herói frágil.