O recente caso que aconteceu comigo relacionado às eleições presidenciais, levou-me a uma reflexão sobre o momento em que estamos vivendo. O caso trata-se de um grupo de pessoas que entrou com uma petição no TSE para uma candidatura apartidária e incluiu o meu nome como vice-presidente, mesmo depois de ter conversado com minha empresária na véspera e ela ter recusado veementemente. O que foi mais curioso: não bastasse a inclusão do meu nome à revelia – supostamente por uma falha de comunicação entre a pessoa que falou com minha empresária e a pessoa que deu entrada na petição -, a confusão se estendeu como uma publicação no jornal Extra, publicação esta que ficou por algum tempo como a segunda matéria mais lida do site. A notícia virou ainda motivo de piada e chacota no meio artístico e no meu trabalho.
Essa história é tão absurda que até agora não acredito que tenha acontecido comigo. Mais que uma “brincadeira de mau gosto”, algo que seria impensável em outros tempos, ela traz em si diversos sinais, a meu ver alarmantes, que estão passando desapercebidos por muita gente.
Estamos vivendo na “era das mentiras” ou “fake era”. Um tempo onde “Fake News” influenciam eleições, viram notícias em telejornais ou até mesmo grandes correntes pelas redes sociais. Uma era onde o maior desafio é descobrir a verdade. Foi-se o tempo da credibilidade e da valorização da palavra.
O advento da “democratização” ou da “globalização” da informação trouxe diversos benefícios, dentre eles, mais voz e visibilidade a diversas pessoas que jamais teriam esse espaço. Em contrapartida, a divulgação de fatos, acontecimentos e pensamentos começaram a fugir, de uma certa forma, de alguns controles. Nesse caminho, as redes sociais viraram uma terra de ninguém, onde o que é verdadeiro ou falso ganham a mesma roupagem, ficando muitas vezes impossível diferenciar um do outro.
Essa transformação do caos da verdade não aconteceu de forma aleatória e impensada, pois uma vez que os grandes veículos mundiais de comunicação já não são mais detentores da ortodoxia da verdade, ao contrário, muitas vezes são desmentidos pelas redes, nada mais oportuno que transformar tudo num universo caótico, um mar de superficialidade e mentiras. Não é à toa que nas religiões o diabo é chamado de o pai da mentira.
Vivemos na era virtual que reflete em todas as esferas da vida humana. Virtualização das brincadeiras. Virtualização dos relacionamentos. Virtualização das sensações.
Não quero parecer aquela pessoa antiquada que não é capaz de aceitar as mudanças do tempo, mas acredito que essa “revolução virtual” traz suas consequências. A virtualização conduz invariavelmente à superficialidade. Por exemplo, por mais real que seja a simulação de frio num filme 5D, ela jamais conseguirá ser tão intensa quanto se você estivesse ao vivo na cena que está sendo simulada. “Chegar em alguém” ao vivo é completamente diferente do que usar aplicativos de namoro. Ou seja, indiretamente, passamos a nos acostumar com a superficialidade das coisas. Perdemos a profundidade e intensidade.
E assim nos encontramos hoje: num mundo de faz de conta das redes sociais, onde todos são felizes, comem comidas maravilhosas e não tem problemas na vida. Um mundo de correntes falsas, de notícias falsas, de cenários falsos e de vidas falsas. Um mundo onde vale tudo para atingir os objetivos, onde até brincar ou ridicularizar um dos processos mais importantes de uma nação, que são as eleições, é permitido. Isso sem entrar no mérito da discussão de manipulações de provas, julgamentos manipulados com dois pesos e duas medidas e por aí vai.
Sim, o caos da mentira ou “fake world” é extremamente favorável para quem sabe usá-lo ou tem mais instrumentalização para isso. É muito simples de entender. Quando vivemos num mar de mentiras, quem tem mais capacidade de manipular os meios e de afirmar que uma corrente mentirosa é verdadeira, tem mais chances de tornar aquilo verdade, ou pode até mesmo usar de uma mentira criada para lhe servir como massa de manobra.
Porém, muito mais que tentar reverter uma situação já estabelecida ou se tornar um eremita, devemos ter consciência do contexto em que estamos inseridos para saber lidar com ele. Não devemos lutar contra a tecnologia, e sim contra a superficialidade das coisas. Antes de compartilhar alguma corrente ou notícia, tente de todas as maneiras averiguar sua veracidade. Se não conseguir ter esta certeza, não o faça. Use a tecnologia para marcar encontros e começar uma aproximação, mas só “se apaixone” depois de conversar e conviver muito com a pessoa, só depois de conhecer minimamente um pouco de sua alma. Brinque nos simuladores de montanhas-russas, mas nunca deixe de andar numa de verdade. Visite virtualmente lugares lindos ou museus, mas nunca deixe de ir até lá pessoalmente se tiver oportunidade. Não se iluda com notícias de facebook, de internet e nem com propagandas eleitorais. Não escolha seu candidato no achismo sem procurar ir um pouco mais fundo no que ele realmente representa. Não se deixe levar pelo “fake world”, pois as consequências são reais e na sua maioria não é coisa boa.